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Combate ao Aedes aegypti

Giovanna Caixeta de Lima¹, Júlia Maffra Neder¹, Júlia Maria Batista Lima², Wagner Cândido de Carvalho Junior ², Yasmin Salete Alves Rodrigues²

¹Graduandos do curso de Medicina (UFSJ-CCO)

²Graduandos do curso de Enfermagem. (UFSJ - CCO)

v.2, n.5, 2024
Maio de 2024

O Aedes aegypti - mosquito transmissor de doenças infecciosas - possui hábitos diurnos, domésticos e se reproduz por meio da colocação de ovos em recipientes com água parada. Seus ovos suportam condições ambientais secas e levam cerca de 7 a 10 dias para completar seu ciclo de vida. A fêmea do mosquito é a responsável pela propagação de doenças através da picada, uma vez que ela necessita de sangue humano para a manutenção do seu metabolismo e desenvolvimento dos ovos [1]. Após alimentar-se de indivíduos infectados, ela se torna capaz de transmitir a doença a indivíduos sadios.

Diante disso, dentre as principais arboviroses (doenças virais transmitidas por artrópodes, como os mosquitos) propagadas pelo Aedes aegypti, destacam-se dengue, zika e chikungunya, sendo todas elas transmitidas no Brasil. Pelo fato de o mosquito ser mais ativo nas primeiras horas da manhã e ao final da tarde, esses períodos são os de maior risco de transmissão [2]. Assim, é importante estar atento aos sintomas sugestivos de infecção por vírus das respectivas doenças, citados na Figura 1, uma vez que eles se assemelham e, por essa razão, podem confundir os profissionais da saúde dificultando o diagnóstico.

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Figura 1: Principais diferenças entre os sintomas de dengue, zika e chikungunya, doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.

Fonte: https://agencia.fiocruz.br/zika-chikungunya-e-dengue-entenda-diferen%C3%A7as

É necessário, portanto, que sejam ampliadas as medidas de combate ao Aedes aegypti, visando eliminar os criadouros e reduzir seu ciclo reprodutivo. Essas medidas devem se basear na vigilância epidemiológica, que pode ser definida, segundo a Lei 8.080, como um “conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos” [3]. 

Segundo os princípios da vigilância epidemiológica, destacam-se três abordagens: o monitoramento da propagação das doenças, o engajamento comunitário e a ação governamental. O monitoramento de disseminação do vírus visa identificar as áreas de maior risco e direcionar ações preventivas. O engajamento comunitário, por sua vez, compreende a mobilização da população, estimulando a adoção de medidas de prevenção e de eliminação dos criadouros do mosquito, dentre elas: não deixar água parada, manter a caixa d'água fechada, colocar areia nos vasos de planta, não acumular entulhos e receber os agentes de saúde e demais profissionais que trabalham na prevenção à doença [1,2,4]. Por fim, a ação governamental é fundamental para implementar políticas eficazes e garantir o cumprimento das medidas de controle do vetor, e, consequentemente, reduzir a incidência das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti [5]. 

Outra estratégia utilizada pelas secretarias de saúde consiste no uso do inseticida de ultra baixo volume (UBV), conhecido como “fumacê”. O método baseia-se na dispersão de produtos inseticidas no ar com o objetivo de atingir o máximo possível de mosquitos transmissores, eliminando-os. Contudo, além de não ser muito eficaz, o fumacê também pode poluir o meio ambiente e afetar pássaros, abelhas e borboletas. Portanto, sua utilização deve ser restrita a situações específicas, como em áreas com alto índice de pacientes com dengue e outras arboviroses. Além disso, os trabalhadores que lidam com esses produtos devem se atentar quanto à utilização de equipamentos de proteção e realização de exames médicos regulares para garantir a sua segurança. [2,6]. Outro método semelhante é o  “Malathion”, inseticida aplicado em forma de spray ou névoa, geralmente por equipes de controle de vetores, que percorrem ruas e áreas afetadas. Contudo, ainda que seja um produto eficaz quanto ao seu objetivo, o Malathion também possui desvantagens semelhantes às outras formas de veneno, já que é igualmente prejudicial para a saúde humana e para a natureza. Isso porque os produtos químicos nele contidos podem causar problemas como náusea, vômito e dificuldade para respirar [1,7].  

Uma outra abordagem que merece destaque envolve Álvaro Eiras, professor e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o qual criou um sistema de controle da doença que atua diretamente na eliminação do mosquito. Batizada de MosquiTRAP, a ferramenta consiste em uma estrutura com fita adesiva na qual a fêmea do mosquito, ao ser atraída pelo AtrAedes, odor específico também criado pelo pesquisador, fica grudada e morre, deixando, assim, de colocar ovos [8]. A armadilha, além de atuar na exterminação do Aedes aegypti, permite que agentes de vigilância consigam identificar, através da contagem de mosquitos presos na armadilha, os locais com mais presença dos insetos e maior número de casos da doença [9].

No Brasil, a fiscalização do combate às arboviroses é uma responsabilidade compartilhada entre diferentes órgãos e instâncias governamentais. Em nível federal, o Ministério da Saúde coordena as ações de prevenção e controle da dengue por mais de 10 anos. Essas ações incluem visitas mensais de agentes de combate às endemias, monitoramento de ovos pelo Laboratório Municipal, remoção de criadouros, delimitação de focos com retorno do agente de combate e educação em saúde nas escolas. Além disso, quanto à dengue, zika e chikungunya, são fornecidas  diretrizes e recursos para os estados e municípios, que são responsáveis pela implementação e pela fiscalização das estratégias. No entanto, apesar dos esforços das autoridades, a fiscalização enfrenta desafios como a falta de recursos, a resistência da população e a maior incidência em determinadas épocas do ano das epidemias. Portanto, é essencial que haja uma abordagem integrada e contínua, envolvendo a participação ativa da comunidade, investimentos em vigilância epidemiológica e ações de controle do vetor para reduzir a incidência de dengue e outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti [10].

Como exemplo de programa de controle bem sucedido, um conjunto de ações integradas realizadas no município de Pedra Branca, a partir de 2001, reduziu significativamente a infestação do referido mosquito e eliminou a transmissão local da dengue por mais de 10 anos. Essas ações incluíram visitas mensais de agentes de combate às endemias, monitoramento de ovos pelo Laboratório Municipal, remoção de criadouros, delimitação de focos com retorno do agente de combate e educação em saúde nas escolas. Essa experiência  destaca a importância da abordagem comunitária e do sistema de saúde local, que se baseia nos princípios do SUS e na participação social para alcançar melhores resultados em saúde para todos [11].

Referências Bibliográficas

[1] OMS (Organização Mundial de Saúde). Dengue. Disponível através do link: https://www.paho.org/pt/topicos/dengue#:~:text=O%20Aedes%20aegypti%20%C3%A9%20o%20vetor%20que%20apresenta%20o%20maior,exceto%20Canad%C3%A1%20e%20Chile%20continental. Acesso em: 07 mai. 2024.  

[2] FIOCRUZ. Dengue - Aedes aegypti. Disponível através do link: https://www.ioc.fiocruz.br/dengue/textos/infografico.html. Acesso em: 07 ai. 2024.

[3] Centro Nacional de Epidemiologia (Brazil). Guia de vigilância epidemiológica. Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, Centro Nacional de Epidemiologia; 1998.

[4] MINISTÉRIO DA SAÚDE. Diretrizes Nacionais para a Prevenção e Controle de Epidemias de Dengue. Disponível através do link: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_prevencao_controle_dengue.pdf. Acesso em: 07 mai. 2024.

[5]  Waldman EA. Usos da vigilância e da monitorização em saúde pública. Disponível através do link:

http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-16731998000300002#:~:text=A%20epidemiologia%20pode%20ajudar%20a,a%20determinados%20agravos%20a%20sa%C3%BAde.

Acesso em: 07 mai. 2024.

[6] World Health Organization. IARC Monographs Volume 112: evaluation of five organophosphate insecticides and herbicides. Disponível em: https://www.iarc.who.int/wp-content/uploads/2018/07/MonographVolume112-1.pdf. Acesso em: 07 mai. 2024.

[7] Caldas LQ de A. Intoxicações exógenas agudas por Carbamatos, Organofosforados, Compostos Bipiridílicos e Piretróides. Disponível através do link: https://cvs.saude.sp.gov.br/zip/intoxicacoes%20agudas%20-%20carbamatos%20e%20organoclorados.pdf. Acesso em: 07 mai. 2024.

[8] Lira PA. Biólogo cria sistema de armadilhas e controle do mosquito da dengue. Pequenas Empresas Grandes Negócios.. 2014. Disponível através do link: https://revistapegn.globo.com/Noticias/noticia/2014/05/biologo-cria-sistema-de-armadilhas-e-controle-do-mosquito-da-dengue.html. Acesso em: 07 mai. 2024.

[9] Resende, MC de, Silva, IM da, Eiras, AE (2010). Avaliação da operacionalidade da armadilha MosquiTRAP no monitoramento de Aedes aegypti. Epidemiologia e Serviços de Saúde. Disponível através do link: http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-49742010000400003. Acesso em: 07 mai. 2024.

[10] Penna, MLF. Opinião. Disponível através do link: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2003000100034. Acesso em: 07 mai. 2024.

[11] Carneiro FF, Pessoa VM, Teixeira ACDA, Barbosa MIS, Holanda Lavor AC, Silva JF. Experiência bem-sucedida no controle do Aedes aegypti sem uso de venenos no sertão cearense. Vigilância Sanitária em Debate. Disponível através do link: https://visaemdebate.incqs.fiocruz.br/index.php/visaemdebate/article/view/775. Acesso em: 07 mai. 2024.

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